segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Literatura - Grandes Clássicos - Biografia - Alexandre Dumas

Vida e Obra de Alexandre Dumas.
Cronologia:
1802 - Em 24 de Julho, em Villers-Cotterêts, França, nasce Alexandre Dumas, filho de Marie Louise e do general Thomas Alexandre Dumas Davy de la Pailleterie.
1806 - Morre o general Dumas.
1818 - Alexandre conhece Adolphe de Leuven. Trabalha como escriturário no notariado de sua cidade.

1821 - Juntamente com Leuven, escreve a peça O Major se Strasburgo.

1822 - Transfere-se para a capital e passa a trabalhar com o duque de Orléans. Começa a relacionar-se com Catarina Labay.

1824 - Em 27 de julho nasce Alexandre Dumas, filho.

1828 - Escreve a primeira versão de Cristina, em cinco atos.

1829 - Em fevereiro estréia no Comédie-Française com a peça Henrique III e Sua Corte.

1831 - Estréia en Antony, com grande sucesso.

1832 - Dumas apresenta as peças de Napoleão Bonaparte, Carlos VII entre Seus Grandes Vassalos e A Torre de Nesle. Viaja para a Suíça. Publica Impressões de Viagem.

1835 - Viaja à Itália.

1840 - Dumas casa-se com a atriz Ida Ferrie. Publica o Cavaleiro de Harmenthal, em colaboração com Auguste Maquet.

1844 - Separa-se da esposa. Começa a publicar Os Três Mosqueteiros.

1845 - Publica O Conde de Monte Cristo e Vinte Anos Depois.

1848 - Publica O Visconde de Bragelonne, encerrando o ciclo de Os Três Mosqueteiros.

1870 - Em 5 de dezembro morre em Puys.

Biografia:

Pouco entendeu do texto, mas sentiu que estava diante de uma obra-prima.

Algo de novo, ainda inexistente na França. Shakespeare o deslumbrava, mas chegara a hora de acabar com as representações das tragéias clássicas francesas. Queria ver no palco a explosão de todos os sentimentos, fazer a platéia prender a respiração ante uma complicada cena de amor ou de ódio. Faltava-lhe tão-somente um bom assunto. Haveria de encontrá-lo casualmente numa exposição de escultura em Paris, num baixo-relevo que representava o assassinato de Giovanni Monaldeschi, por ordem da rainha Cristina da Suécia.

Alexandre Dumas não sabia quem era Monaldeschi, tampouco ouvira falar na rainha, e, homem feito, foi obrigado a consultar a Biografia Universal, dicionário de personalidades históricas, para descobrir quem era Monaldeschi. Soube assim que fora o amante de Cristina da Suécia. Com ciúme dos favores dispensados pela amante a outro cavalheiro italiano, Sentinelli, Monaldeschi escreveu a Cristina uma série de cartas injuriosas, imitando a letra do rival. Descoberta a intriga, a soberana ordenou a seu novo amor que executasse Monaldeschi no pátio de Fontainebleau, presenciando o espetáculo. Munido dessas informações sumárias, escreveu o drama Cristina, que pretendia fosse representado no teatro mais famoso e exigente da época, o Comédie-Française.
Sabia das dificuldades que o esperavam. Coragem, orgulho, autoconfiança, entretanto, sempre foram traços marcantes de seu caráter. Nada o intimiava.

Paris entrara em seus sonhos desde o dia em que chegara à sua casa certo Auguste Lafarge. Impressionaram-no a elegância do rapaz, sua loquacidade, seus versos e, sobretudo, a descrição de uma cidade de luzes e festas, onde a glória e o dinheiro pareciam fáceis.

Em Villers-Cotterêts Dumas pediu permissão à mãe para ir morar em Paris. Queria tentar o teatro. Confiando a um amigo o desejo de escrever uma peça e conquistar a fama, foi aconselhado a aprimorar sua cultura literária, ler muito, aprender vários idiomas, conhecer grandes autores estrangeiros antes de partir.

Aprendeu alemão e italiano sem muito esforço. Com a ajuda de Lafarge traduziu o romance Jacopo Ortis, de Foscolo, e leu Werther, de Goethe.

A certeza de que sua verdadeira vocação era escrever para o teatro fortaleceu-se quando um grupo de atores aparexeu em Soissons, cidade próxima a Villers-Cotterêts. A presentação de Hamlet, de Shakespeare, arrebatou Dumas, Masi que a intricada análise de sentimentos e a inquietação revelada pelos personagens, encontaram-no a liberdade da construção dramática e o emprego de elementos grotescos.

Saiu do espetáculo convencido de que poderia criar algo igual ou melhor. Seu amigo Adolphe de Leuven, nobre sucedo refugiado na França, freqüentador habitual dos mais famosos teatros parisienses, ofereceu-se para colaborar, e ambos escreveram uma pequena peça em um ato: O Major de Strasburgo. Pouco depois Leuven voltou a Paris, onde morava, deixando o jovem ansioso por segui-lo e poder conquistar a capital.

A Sra. Dumas não opôs resistência ao desejo do filho. Juntou o último dinheiro que lhe restava e fez-lhe as malas. Alxandre chegou a Paris em 1822, com apenas vinte anos de idade, pouca instrução e nenhuma experiência. Precisava arrumar um emprego. Procurou Adolphe, em busca de três ou quato endereços de ex-companheiros de seu pai.

Nem todos o atenderam. Um até duvidou de sua identidade, mas o último, o general Foy, o recebeu, lembrando com saudade o amigo desaparecido. Perguntou-lhe o que sabia fazer. Dumas disse-lhe honestamente que não conhecia matemárica, ignorava por completo o que era álgebra ou contabilidade e não fizera curso de Direito. O general prometeu chamá-lo quando soubesse de alguma possível colocação. Ao ver, porém, a bela caligrafia com que desenhou o nome da rua e o número, teve uma idéia: o rapaz poderia trabalhar como secretário do duque de orléans, futuro rei Luís Filipe. O emprego não só lhe garantiria a subsistência em Paris como também lhe haveria de abrir o caminho para o Comédie-Française.


Todos os meses um funcionário do teatro ia levar entradas para o duque de Orléans, e, numa dessas ocasiões, Dumas resolveu interpelá-lo a respeito de como poderia fazer representar sua Cristina. O funcionário lhe esclareceu ser preciso submeter o manuscrito ao julgamento de uma comissão encarregada de leitura e aguardar o resultado. Alexandre não queria esperar nada. Sempre resolvera as coisas rapidamente, como com catarina Labay, as costureirinha do prédio vizinho. Logo que a conheceu, tornou-a sua amante e teve um filho com ela antes que completasse um ano de namoro. Esse filho também se tornaria célebre: Alexandre Dumas, autor de A Dama das Camélias. Repentinamente chefe de família, teve de mudar-se para um apartamento maior, com Catarina e o menino.

Mas continuou tramando o meio de estrear no mundo do teatro "O senhor poderá apressar as coisas", disse-lhe o funcionário, "se conseguir a mediação do barão Taylor", inglês nascido na Bélgica, naturalizado francês, amigo de Victor Hugo, comissário real do Comédie. Como fazer para entrar em contato com tão ilustre personalidade? Alexandre conhecera acidentalmente o escritor Charles Nodier, e graças a ele a leitura da peça foi antecipada. A comissão deliciou-se com aqueles cinco atos cheios de peripécias, ainda que não muito fiéis à verdade histórica. Vencera a primeira etapa. Restava-lhe outra, mais difícil: enfrentar a senhorita Mars, atriz principal do elenco permanente do Comédie.

Lidar com as mulheres de modo geral não o preocupava. Era um prazer e uma arte, na qual Alexandre era perito. Entre um verso e outro, envolvia-se num caso amoroso, apesar dos protestos de Catarina Labay. Com a atriz não deu certo. Velha, queria parecer moça. Educad na escola clássica, não queria saber de gritos e de choros. Abominava o crime e o sangue apresentados em cena. Positivamente, não podia aprovar o qu considerava de mau gosto no drama de Dumas. Ordenou-lhe modificações; ele se recusou a fazê-las e ela abandonou o papel Romperam relações, tornaram-se inimigos. Cristina foi para a gaveta. Dumas, no entanto, já havia posto os pés no Comédie.

Precisava encontrar logo outro assunto. Achou-o mais ou menos ao acaso, ao ouvir, durante uma conversa, um fato que ocorrera no reinado de Henrique III. Marcado pela influência do escocês Walter Scott, que escrevia romances históricos após cuidadosas pesquisas, Dumas leu mais dois livros sobre o assassinato da bela duquesa de Guise por seu marido Henri ao ser surpreendida em adultério. Com mais alguns dados sobre a época, a sua fértil imaginação fez nascer uma peça cheia de colorido, de ambientação histórica, de emoção, que, se não chega a ser uma obra-prima, tem o mérito de haver iniciado o teatro romântico na França. Henrique III e Sua Corte, levada à cena pela primeira vez, no Comédie-Française, em 11 de fevereiro de 1829.

Além do sucesso, Alexandre Dumas levou, da estréia, o coração da jovem atriz Virgínia Bourbier e toda a sua comitiva. Os direitos de imprimir Henrique III foram vendidos por uma soma assombrosa. Diante do êxito, retirou da gaveta Cristina, reescreveu-a, mudou-lhe o título (Estocolmo, Fountainebleau, Roma) e a fez representar. O triunfo foi absoluto.

Paris encontrava-se em plena ebulição cultural e política, em virtude das novas idéias que o Romantismo trouxera para todos os campos do conhecimento humano. Dumas, como outros escritores de seu tempo, dividia-se entre a elaboração de sus obrs, os saraus literários e as composições poéticas. Não raro se reuniam na casa de Victor Hugo artistas do porte de Vigny, que por essa época apresentava uma adaptação de Otelo, de Shakespeare, Balzac, que iniciava a sua Comédia Humana, Meriméé, que publicava as primeiras novelas de Revue de Paris, e o próprio Dumas, consagrado como dramaturgo vigoroso e rebelde. O assunto mais debatido nesse ano de 1829 era a luta de Hugo para encenar sua Marion Delorne, oficialmente proibida pela censura real, que nela via alusões desairosas ao monarca Carlos X.

Somente em 1831, após a revolução liberal que conduziu Luís Filipe ao trono, a peça pôde ser representada A proibição do drama acendia os ânimos do grupo contra o soberano, que granjeara a oposição quase generalizada do povo, por adotar medidas autoritárias. A supressão da liberdade de imprensa, em 1830, constituiu a gota final para as iras populares. A revolução explodiu em Paris. Dela participou Dumas, empunhando as armas e abandonando momentaneamente o teatro.

Quando se restabelecera tranquilidade, Alexandre Dumas voltou a escrever, levando à cena o drama Antony. Insatisfeito com as outras peças desse período - Napoleão Bonaparte e Carlos VII entre Seus Grandes Vassalos -, passou a escrever em colaboração, o que era comum. Seus colaboradores forneciam os fatos principais, e ele coloria o arcabouço com episódios fictícios, frases emocionantes, finais de ato magistrais. Essa habilidade em deter em ação num ponto cultimante seria fator de importância em sua futura carreira de romancista.

Dumas partiu para o exterior a serviço de Luís Filipe e prolongou a viagem por prazer. Enquanto se encontrava na Suíla e na Itália, escreveu suas Impressões de Viagem, e percebeu que o teatro se esgotava como meio de expressão. Pensou em tentar o romance e acertou. Foi o gênero que verdadeiramente o imortalizu. Com exceção de Kean ou Desordem e gênio, as peças de Dumas foram esquecidas.

Catarina labay estava ficando velha. Uma vida cheia de sobressaltos tirou-lhe aquela jovialidade que atraía Dumas. O filho de ambos estava crescido, revelando fortes tendências literárias e o mesmo espírito do pai e do avô. O casal, que jamais se unira em matrimônio, vivia separado havia muito tempo, e não tinha razão nenhuma para modificar a situação. Dumas continuava tendo suas amantes. Inesperadamente, em 1840, resolveu se casar com uma delas, a atriz Ida Ferrier. Quatro anos depois haviam de se separar.

No mesmo ano do casamento, um colaborador de Dumas, Auguste Maquet, entregou-lhe o esboõ do romance Le Bon-bomme Buvat, complicado enredo de conspirações políticas. O texto, aumentado de um para quatro volumes e intitulado O Cavaleiro de Harmenthal, teve grande aceitação. Dumas seguia o método de Scott. Os leitores de um romance histórico queriam sentir no relato as mesmas emoções suscitadas pela representação teatral: encontrar pessoas humanas sob os escudos e os mantos reais, conhecer a história de seu país, os costumes de épocas passadas, sem o esforço que um compêndio escolar exigia. Dumas satisfazia esses anseios.


O mesmo Marquet lhe entregou a nova chave do tesouro, um volume escrito em 1700 por um certo Gatien Coutilz de Sandras intitulado As memórias do Senhor d'Artagnan, Capitão-Tenente da Primeira Companhia de Mosqueteiros do Rei. O ponto de partida é o caso amoroso entre o cavaleiro d'Artagnan e a dama Constance Bonacieux, camareira de Ana da Áustria. Com auxílio da amada de d'Artagnan acba participando de uma intriga política: Ana da Áustria, casada com o rei Luís XIII, oferta ao amante, duque de Buckingham, um cofre cheo de jóias que o marido lhe dera de presente. Sabedor do fato e desejoso de provocar a ruína da rainha, o ministro Richelieu sugere ao rei que peça a Ana para usar as jóias no próximo baile da corte. Desesperada, a rainha pede a d'Artagnan que recupere o pequeno tesouro, transportado por Buckingham para a Inglaterra. O cavaleiro une-se a três amigos e juntos partem para a aventura, enfrentando as ciladas do pérfido cardeal Richelieu e os traiçoeiros encantos da demoníaca Milady, cúmplice do ministro.

Nenhum dos outros numerosos volumes de Dumas provocou tamanha emoção. Os romances que retomam a história de d'Artagnan, ou mesmo o famoso O Conde de Monte Cristo, não conseguiram suplantar Os Três Mosqueteiros. Grande parte do êxito se deve à simpatia que os quatro heróis despertaram. Nenhum desses personagens é criação original; todos figuraram na obra de Sandras e viveram realmente no século XVII. Dumas, porém, deu-lhes nova vida, ressaltou-lhes as características, tornando-os mais temerários, e ampliou o âmbito de ação. Por meio de uma trama apaixonante e de um estilo cheio de vitalidade, reviveu toda a atmosfera do século XVII francês, o esplendor da corte, o sensacionalismo das intrigas políticas e o poderio econômico e cultural de uma época brilhante.

De acordo com os planos do autor, d'Artagnan devia ser um personagem secundário que introduziria os três mosqueteiros. Como a figura era atraente, Dumas resolveu promovê-la, acrescentando mais um mosquteiro, sem, contudo, mudar o título. O traço marcante do caráter de d'Artagnan é saber ousar, quando há oportunidade. A semelhança com Dumas se acentua por causa da forte dose de ingenuidade, algo provinciana, que acompanha sua ousadia. O autor, fascinado por sua criatura, também a exploraria mais tarde em Vinte Anos Depois e O Visconde de Bragelonne.

Athos, o Conde de la Fère, é a figura mais romântica: vive atormentado pela dúvida, pois crê er assassinado sua primeira esposa, a pérfida Milady, a mulher má, espiã a serviço de Richelieu, autora das mais ardilosas tramas para impedir que os mosqueteiros restituam as jóias da rainha. Correspondente feminino do vilão das aventuras desse gênero, Milady se contrapõe à doce e angelical Constance Bonacieux. Tentando expiar o crime imaginário, Athos entra para o grupo e expõe sua vida aos maiores perigos.

Henry d'Aramitz, ou simplesmente Aramis, astuto e generoso, considera a vida um jogo divertido, composto de ação, amor e preces. Divide seu tempo entre as aventuras da espada, os episódios sentimentais e a igreja. É o que melhor representa o espírito do Século XVII, época de cardeais e soldados, de missal e arcabuz.

Porthos, finalmente, ou Du Valon na vida real, alto, gordo, bondoso, facilmente maleável, pouco inteligente, foi preferido do autor. Diz-se que, ao ser obrigado pelo enredo a matá-lo, Dumas chorou.

Todos esses personagens, ávidos de ação, refletem o espírito aventuresco do autor, falecido em 1870, ele mesmo lutador incansável em prol da arte e de seus princípios políticos. Ousado como d'Artagnan, corajoso como Athos, sedutor como Aramis, alegre como Porthos, não seria falsear a verdade acrescentar qo quarteto dos famosos espadachins um quinto mosqueteiro: o próprio Dumas, heróide pena em punho esgrimido pela fama e pelo amor.

Fonte: Coleção Obras Primas - Vida e Obra, fascículo "Alexandre Dumas". Editora Nova Cultural

Um comentário:

Grand Ymperator disse...

Simplesmente fantástico!

As idéias num contexto que se faz mister no cotidiano! Não digo rotinas... mas vem de encontro à busca do preenchimento literário.

Gostei dos pensamentos e do estilo das palavras!!!

Te adicionei no meu X-Blogs!!!

Um abraço e parabéns!

Prof Gasparetto